A linda sucuri da foto acima é Ana Júlia, uma das mais famosas do mundo, se não “a mais famosa”, que vivia no Rio Formoso, em Bonito, no Mato Grosso do Sul. Era símbolo da cidade, mas, neste fim de semana, foi encontrada morta por guias de turismo, boiando no rio, o que revoltou muita gente.
Não só moradores e guias ficaram indignados com o crime, mas também pesquisadores, documentaristas, fotógrafos entre outros profissionais que amam os animais e protegem a rica biodiversidade da região.
O autor do belo retrato da sucuri gigante, de quase 7 metros de comprimento, é Cristian Dimitrius, documentarista de vida selvagem (há pouca semanas, ganhou o prêmio de Mergulhador do Ano, como contei aqui). Ele é uma dessas pessoas, que amam a natureza de Bonito e não poupou em indignação. “Revoltante!!!! Muito revoltante!!!!!”, escreveu no Instagram assim que soube do crime por um amigo que mora em Bonito, Juca Ygarapé, especialista em passeios para avistamento de sucuri.
“Ele é o cara que mais conhece as sucuris de lá. Assim que soube, me enviou mensagem. Os guias que trabalham com ele, que fazem passeios todos os dias pelo rio, viram Ana Júlia boiando. A tiraram da água e dizem que viram marca de tiro, mas eu não posso afirmar. De qualquer forma, não acho improvável porque, há duas semanas, mataram uma sucuri com requintes de crueldade – arrancaram sua cabeça -, num residencial chamado Solar dos Lagos. Não é novidade! Essas coisas têm acontecido em Bonito, infelizmente”.
Ana Júlia, morta: parte de seu corpo foi tirada do rio pelos guias que a encontraram
“Sinto que perdi uma amiga…”
Certamente, Dimitrius foi o primeiro a divulgar o crime nas redes sociais. “Infelizmente, hoje recebi a notícia de que Ana Júlia foi morta e seu corpo encontrado boiando no Rio Formoso, com marcas de tiro. Que tristeza, que raiva!!!! Quem teria feito um absurdo destes????”.
E completou: “Sinto que perdi uma amiga, um membro da família, um ser especial com o qual passei muitos momentos importantes. Só digo que isso não vai ficar assim! Vamos investigar e ir atrás dessa pessoa! Ela terá que prestar contas a justiça!” E finalizou o post com duas hashtags: #ripanajulia #justiçaparaanajulia
Devido à vivência que teve com o animal, além de seus registros em fotos e vídeos, Dimitrius tinha certeza de que a cobra morta era Ana Júlia. “Identifiquei pelas manchas no rosto. A mais forte, que aparece mais, é bem comum, mas, nela, é um pouco maior e, embaixo da boca ela tem um U invertido. E uma outra marquinha que é só dela”, conta.
Mesmo assim, confirmou com a bióloga Juliana Terra, especialista em sucuris, que mora em Bonito e é doutora em ecologia pela Universidade de São Paulo (USP). “Ela acompanhava Ana Júlia há 8 anos”, comenta.
Para Juliana, essa perda é irreparável para a biodiversidade da região de Bonito. “Registrei alguns eventos reprodutivos, as gestações e alguns filhotes, além de diversos aspectos da história de vida da sucuri”, contou ela ao G1.
A ecóloga ainda explicou que as fêmeas desta espécie (sucuri verde) são consideradas topo de cadeia alimentar – ou seja, “animais que controlam populações e presas. Sua influência gera, portanto, um ecossistema balanceado“.
“Era um animal adulto e saudável, teria pela frente provavelmente muitos eventos reprodutivos [gestações] para contribuir para a perpetuidade da população de sucuris da região. Era um símbolo também, conhecida localmente e pelos turistas já que costumava ficar descansando no barranco do rio onde passa o passeio de bote”, acrescentou.
Apesar de os guias terem dito que Ana Júlia foi abatida com um tiro, a causa da morte só será confirmada pela Polícia Militar Ambiental (PMA) após análise e investigação. Ontem, as equipes da PMA de Bonito foram ao local onde a sucuri foi encontrada para colher informações.
E, ainda pela manhã, a prefeitura de Bonito divulgou nota pública:
“A Prefeitura de Bonito manifesta total repúdio pelo ocorrido com a Sucuri ‘Ana Júlia’ em nosso município. A relevância de um animal desse porte nas nossas áreas mostra o quão equilibrado o nosso ambiente está, porque um ambiente para suportar um animal topo de cadeia, como uma sucuri de quase 7 metros, precisa estar no mínimo equilibrado e essa atitude pessoal, de alguém que comete um ato como este, é totalmente desprezível e vai contra tudo aquilo que a gente faz em prol do meio ambiente. Então esperamos que as autoridades competentes consigam identificar os autores e punir os culpados”.
Maiores Informações:
Comentários: